Conheço um “projetista” acústico, relativamente famoso aqui em São Paulo, capital, que é conhecido por projetar DIFUSORES.

Os clientes se empolgam: “Uau, o cara faz difusores, olha que linda esta sala que ele fez.”.

Sala linda??? Estão construindo um cenário de novela ou uma sala de gravação? E quem disse que projetar um difusor é coisa de cientista da NASA? Costumo dizer que a informação sempre está disponível, a dificuldade é transformá-la em conhecimento. Há pelo menos uma dúzia de bons livros que ensinam a projetar e construir difusores. Mas que tipo de difusor construir? Para que frequências? Onde será instalado? Por quê?

Às vezes chego a pensar que os culpados são os próprios clientes. Se este projetista encontrou um gancho marketeiro que funciona e fecha negócios, o que há de errado nisso? É claro que o resultado acústico precisaria ser bom. Mas de novo, o cliente fica satisfeito simplesmente porque existe um difusor gigante no fundo da sala. Nem parou para escutar, antes e depois. Comparar, medir, trabalhar na sala.

Muitas pessoas são altamente sugestionadas. Eu já fiz vários testes cegos, onde a diferença entre o primeiro trecho de áudio e o segundo era…. NADA. Exatamente iguais, porém minhas perguntas direcionavam e sugeriam sensações. As pessoas realmente achavam que estavam escutando algo diferente. Só fiz estes testes para provar como funciona a psicoacústica, em sala de aula.


Os clientes deste famoso projetista gastam MUITO dinheiro, aparentemente ficam contentes e depois de alguns meses, finalmente percebem que a sala não está tão boa assim. Principalmente quando visitam uma outra bem projetada. Cansei de visitar estúdios para fazer orçamentos de projetos “corretivos”, para arrumar a acústica de projetos executados há poucos meses, adivinha por quem! Fico pensando quanto tempo essa fama vai durar para ele.

Voltemos ao título do artigo. Afinal, para que serve um difusor acústico?

As ondas sonoras, quando encontram superfícies, sofrem basicamente três fenômenos: Reflexão, Absorção e Transmissão. Como sabemos, excesso de reflexão é algo que não desejamos nos estúdios de gravação, nem nas salas de mixagem. Reflexões exageradas tendem a “encher” a sala de som, modificando percepções, timbres, equilíbrios e reverberação. Por outro lado, se todo o som for absorvido (ou transmitido para fora), a sala soará como “morta” ou “seca” demais. Normalmente, também é algo que não se deseja, por soar artificial ou muito distante da realidade.

A solução está em se conseguir uma boa relação entre reflexão, absorção e transmissão, de modo que o som esteja sob controle. Que exista um certo grau de previsibilidade, confiança e naturalidade para se gravar e fazer julgamentos. Dessa forma, o projetista acústico determinará quais as frequências e com que intensidade elas serão refletidas de volta para a sala.

http://www.subwoofer-builder.com/qrdude.htm

Os graves são naturalmente “difusos” e tendem a se espalhar para todos os lados. Os agudos, no entanto, refletem como bolas na mesa de bilhar. Se você visualizar uma onda sonora aguda como um feixe de laser numa sala de espelhos, repare na “confusão” sonora que pode acontecer. Algumas posições da sala serão atingidas por ondas, outras não. Sons da caixa esquerda podem refletir e atingir o ouvido direito. E por aí vai.

Neste cenário, a melhor maneira de refletir os agudos de volta para a sala seria através da difusão. Quando o som incide em um difusor, ele reflete para várias direções. O fenômeno ajuda e distribuir o som igualmente no espaço, equilibrar, homogeneizar o campo sonoro. Diminui os problemas de posicionamento e interferência de ondas, ao mesmo tempo em que dá “vida” ou reverberação adequada para a sala. Em outras palavras, reflexão pura e simples deve ser evitada. Normalmente, a decisão fica entre absorver ou difundir, dependendo das frequências envolvidas e objetivos da sala.

Agora você sabe, da próxima vez que alguém tentar te impressionar com “Difusores policilíndricos skyline QRD”, lembre-se que é apenas uma das peças envolvidas em um tratamento acústico, assim como Absorvedores e Painéis Refletores. Ter ou não ter um difusor na sala não diz nada a respeito da qualidade acústica dela. Muito menos do projetista!

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